domingo, 26 de novembro de 2006

É Domingo e não podia ser Terça

Acordo. Durmo. Acordo outra vez, desta vez com energia. Ligo a televisão e vejo o Ricardo Pereira, volto a dormir. Levanto-me perto da uma da tarde, tomo banho e equaciono fazer barba. Resolvo não a fazer porque é domingo, uso a desculpa-domingo, enquanto a olho com um olhar cúmplice – a desculpa-domingo serve para todas as ocasiões, menos para não ir à missa, mas para isso não é preciso usar-se uma desculpa basta usar a lógica.
Vou até ao café da esquina comer uma torrada, beber um galão e ler as gordas de um qualquer semanário de eleição: O Expresso ou a Dica da semana. Hoje opto pela Dica, é o único jornal onde não tenho de ouvir falar do Miguel Sousa Tavares e, sobretudo, porque quero saber a quanto está o lombo de porco.
O telefona toca. É uma velha tia a dar-me a notícia que outra tia morreu e tenho de ir ao funeral que é lá para as cinco da tarde. Sou obrigado a anotar a morada do cemitério em cima do artigo sobre o lombo de porco. Arrependo-me de não ter comprado o Expresso, estrago uma reportagem sobre o lombo de porco e perco uma oportunidade única de escrever “ Cemitério da Abóbada, ao lado da Galp” em cima da crónica do Sousa Tavares.
Fico triste, é uma notícia que me perturbou o domingo. Sobretudo porque às cinco da tarde há o Sporting contra o A.R.Freixieiro em Futsal – e gravado não é mesmo.
Pego no carro e rumo até a Abóbada. No caminho, chego a várias conclusões: Quando morrer não quero que o meu funeral seja num sítio fora de mão para as pessoas. Gostava de passar o meu último dia em público num sítio que fique em caminho, como por exemplo: a FNAC. Os telefonemas fatídicos teriam outra alegria: “O funeral do Salvador é às cinco na FNAC”; sinto que vai ser o primeiro enterro em que as pessoas vão mais cedo com objectivo de passar tempo de qualidade umas com as outras. Não quero falecer ao domingo, é de mau tom falecer-se ao domingo. Há dias para tudo e para morrer escolhe-se uma Quinta, uma Sexta, até mesmo uma Segunda. Terça e Quarta está fora de questão por que é dia de Liga dos Campeões.
Inverto a marcha e volto para casa, os funerais fazem-me impressão. Quando estou a chegar a casa sou abordado por uma idosa que me pede ajuda monetária para a luta contra o cancro. Dou dinheiro, não por solidariedade, mas com o objectivo de aumentar a minha colecção de autocolantes com a temática doenças. Só me faltam dois: Osteoporose e Alzheimer, sendo que este último é o mais procurado – fazendo uma analogia com a caderneta de futebol da Panini 94/95, é o Caccioli das doenças.
Chego a casa, ligo a televisão e, por bambúrrio, aparece o Ricardo Pereira. Ainda bem que amanhã é segunda-feira.
SM