Ecografia
É difícil descrever a emoção que sinto quando sou confrontado com uma ecografia.
Apenas sei que a minha primeira impressão é muito parecida com a que tenho quando observo a radiografia da minha coluna.
O facto de não ser a cores mostra algum atraso na área. Na minha opinião, o feto, no geral, teria a obrigação de relatar o seu dia-a-dia através de um blog.
Até deveria ter acesso a uma Playlist de músicas, disponível no Myspace, que ia mudando consoante o seu estado de espírito.
A imagem é muito monótona. Não há história, não há argumento. Podia haver uma intriga, um tiroteio, um estacionamento em segunda fila.
As imagens instigam o suspense. Ficamos atentos. Começamos a acreditar que algo de estupendo poderá acontecer: “ Será que o embrião vai interpretar uma inovadora versão da lambada?”. Desistimos. Sabemos que esse brilharete só está ao alcance de alguns objectos existentes numa loja do chinês.
No fundo os pais convidam-nos para dizer: “ Estás a ver as mãozinhas?”. É uma armadilha. É um teste ao nosso júbilo. Ficamos sem saber se devemos congratular o casal com um abraço ou através um cheque em branco.
As imagens são esclarecedoras. Mal nascemos,ficamos detidos durante nove meses. Sem privacidade, sem intimidade e, sobretudo, sem a possibilidade de jogarmos a sós uma canasta.
Basta. Vou beber mais um gin.
SM