sexta-feira, 27 de julho de 2007

Os "cansadinhos"

“Estão tão cansadinhos, coitados”, “Deixa-o, está cansado”, a pior: “Hoje, estou cansado”. Não há nada mais ultrajante do que pessoas a auto proclamarem o seu pobre cansaço.

Sempre exasperei com expressões, que reflectissem o meu grau anímico ou, sobretudo, o dos outros, mas o mais surpreendente é que, de facto, torna-se complicado não cedermos à tentação de verbalizar a nossa fadiga. Está-nos na ponta da língua; é um tique muito nosso.

A cartada “cansaço” funciona como um travão para qualquer diligência: “ Até ia, mas estou cansado”. Permitam-me uma questão ontológica: Aonde é que anda o homem medieval? O que seria se, no ano de 1347, um guerreiro dissesse: “ Hoje, não me levem a mal, mas não contem comigo para ir à guerra. É que ontem só dormi quatro horinhas”.

Os “cansadinhos” são aborrecidos, contribuem para o bocejo fácil.

Na verdade, não existem elevados índices de canseira. Mas estamos em Portugal e por cá é de bom-tom estar-se cansado. Quem não está cansado é porque não faz nada. E não é nada bom dar-se uma imagem de quem não faz nada, principalmente, e é este o cerne da questão, porque os portugueses no geral, de facto, não fazem efectivamente nada.


Como pode estar este país tão cansado? Será que é dos leasings e das prestações? Bem sei que não é fácil pagar um micro-ondas em 32 prestações, mas é preciso mais ânimo. Sobretudo porque não é todos os dias que se tem a possibilidade de adquirir um, com um inovador sistema de Quick Pizza

*- Podia continuar, mas hoje estou um bocado cansadinho.
SM