quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Edinburgh Fringe Festival, quase tudo sobre o

Chove na Escócia. Atenção, esta não é uma maneira pomposa – ou pirosa – de começar mais uma crónica de viagem. Está realmente a chover.

Logo no primeiro dia, sou confrontado com os tradicionais tocadores de “bagpipes” – começo por achar piada, mas ao terceiro minuto os meus ouvidos imploram-me para sair dali.
Não deixa de ser estranho que a tradução do nome deste instrumento para português resulte num nada fleumático “gaita-de-foles”. Concluo que a malta que traduziu isto é a mesma que trabalha na tradução dos títulos dos filmes americanos que cá chegam.

Mais estranho, só este gosto dos escoceses pelo som que sai daquele instrumento. Falamos de um misto de esfolar um gato com o de matar um porco, mas ainda assim, prefiro estas duas hipóteses. O porco dá presunto e… caramba, esfolar um gato são 15 minutos de diversão garantida.
Em algumas ruas, também as crianças, equipadas com o seu kilt, tocam gaita a troco de algumas moedas. Lembro-me dos menores portugueses que trabalham nas fábricas de Famalicão e Matosinhos e penso na sorte que têm. Entre perder dois dedos, ou a dignidade, opto claramente pela primeira.
À noite, e não contando com os pubs autorizados, nenhum estabelecimento comercial vende álcool depois das dez. Torna-se para mim claro o porquê dos escoceses começarem a beber logo pela manhã. Esta é, aliás, uma das explicações para a extrema simpatia deste povo britânico, eu próprio quando bebo muito, transformo-me numa pessoa muito melhor (e não só fisicamente).

O trânsito local, nem em sonhos de muitos homens portugueses seria tão perfeito: três faixas para cada lado, poucos semáforos e loiras a atravessar a rua constantemente. No entanto, nunca se vê ninguém em excesso de velocidade. Aqui, ser político ou jogador de futebol, não é tarefa fácil.

A segurança é a palavra de ordem. Até nos autocarros existem câmaras de segurança, o que não só impossibilita roubos como violações a bordo do Bus – ambos para nosso bem. Penso em trazer esta medida para Portugal (numa primeira fase no 50 para Chelas e no 16 para a Damaia) mas depressa me apercebo do provável insucesso: cá, as câmaras rapidamente seriam roubadas.

Quando penso que as referências ao filme Braveheart caíram em desuso, avisto um homem que desce a Princess Street, enquanto grita por diversas vezes “Sons of Scotland, I am William Wallace!” – falso alarme: está apenas encontrado o primeiro português.
Sobre o festival em si, há pouco para dizer, apenas muito para ver.
Uma palavra final para o espectáculo de rua do Pedro Tochas, “O Palhaço Escultor”, que assistimos às 19h30 do dia 9, no meio de uma multidão que gargalhava em plena High Street. Foi nessa data que o nome de Portugal se elevou mais um bocadinho no estrangeiro, coincidindo com a altura em que um comediante quase me fez chorar.
RSC