Portugal, hoje
Este texto foi escrito por Raimundo Esperança, heterónimo em part-time. Vulgo, ordinarão.
Estar frio, não é só estar frio. É muito mais do que isso.
É um grito, ou melhor, uma revolta: está frio, caralho!
Surge a questão: quem é que pôs isto no máximo?
Eis a resposta: O cabrão do costume. Deus.
Deus tem capacidades, mas é um bocadinho distraído.
Não somos os mesmos, não sentimos o mesmo. Quer dizer, sentimos o mesmo e somos os mesmos, mas com mais frio.Com muito mais frio e com blusões de penas até aos olhos.
O frio, a grande promessa do Outono/Inverno, é um provocador das compras por impulso. Perante tamanhas temperaturas espera-se um consumismo à altura: batons para o cieiro (e aqui não me fodam, porque têm de ser Labello), gorros e cachecóis sortidos para disfarçar o facto de estarmos sempre vestidos com a mesma roupa.
Hoje,toda a gente traja sobretudo. Passou a ser impossível distinguir um exibicionista de caralhos e um senhor que apenas veste um casacão cinzento
Em relação às comidas e coiso, a reposta é Magnum de amêndoas. Tem de ser. Não sei se é por causa daquele anúncio ó caralho, mas quando está frio apetece-me sempre um Magnum de amêndoas e uma lareira a arder-me na cara.
Os próprios Madredeus sofreram com isto do frio e falo-vos desta banda – banda ou ceita? Nunca percebi muito bem – porque a sua sonoridade mesmo que seja ouvida em pleno verão, remete-nos sistematicamente para um t-2 no Nepal.
Sim, a Teresa Salgueiro vai apostar numa carreira a solo. Cá para mim, não foi uma decisão irreflectida. Foi o frio, outra vez. Está frio e rapariga precisava de miminhos e de uma mantinha. Tanto que o seu último trabalho a solo intitula-se por “La Serena”. Não sei se é bom nem mau, contudo só de ouvir o nome apetece-me pedir umas capirinhas e vestir umas sloggi.
Vou partir, porque tenho o cérebro em estalactite e o meu mais novo no forno.
SM