quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

GPS


Este aparelho digital apareceu em boa hora com a missão de atenuar essa grande desgraça da sociedade moderna que infelizmente ainda prolifera: o sentido de orientação.

Finalmente, alguém se lembrou de livrar a civilização de pensar em questões geográficas. A bússola foi uma boa ideia, mas assim de repente, acho que só o Rambo é que a usou convenientemente.

Agora sim, podemos afirmar com veemência que estamos a caminhar a passos largos para um estado deambulatório onde a única luz ao fundo do túnel é a hipótese do GPS saber chegar ao túnel evitando as portagens.

Hoje, ter-se sentido de orientação é “Out”.

Por outro lado, estar “In” é não se conseguir ir do túnel do Marquês para a rotunda do Marquês sem ajuda do GPS. Aqui, o aparelho é de uma utilidade redentora na medida em que, de facto, muito pouca gente é capaz de prever que a seguir ao túnel do Marquês vem o Marquês. Pode haver um palpite, mas nunca uma certeza.

Estou em crer, que esta importação que fizemos aos americanos – expressões portuguesas que gosto de pôr em itálico e encaixotá-las numa pasta a que chamo: Era pô-los a todos num contentor para África – está a contribuir, e de que maneira, para o fim do palpite.

Não será tolo ou descabido afirmar que ameaçar o palpite é ameaçar a génese portuguesa. O que será de nós sem o palpite, sem o atalho, sem o “eu sei um caminho”?

A voz de comando destes novos GPS´s é por norma de sotaque brasileiro. Voz esta, que para além de estar morta desde 1895 e não gostar de funk, não detém qualquer personalidade ou rasgo.

É através de um tom monocórdico que a brasileira vai avisando os portugueses sobre quantos metros faltam para chegar ao destino. É aqui que surge inovação, visto que nós portugueses estamos mais habituados a ser informados por brasileiras sobre quanto euros faltam para atingir o objectivo.

Bom vou ali um bocadinho até à sala que me estão a chamar… mas espera ai, aonde é que me puseram o meu GPS?
SM