terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Vidas do Arco da Velha: Joaquim de Almeida

Joaquim de Almeida nasceu em Portugal a 15 de Março de 1957. Precisamente um ano depois, a 15 de Março de 58, disse a sua primeira frase em português, na altura dirigindo-se à sua mãe: “vai à merda”. A reacção negativa da mãe traduziu-se num valente estaladão, facto que desde então e até hoje dificultou a sua maneira de falar e de ser compreendido. Por não conseguir ultrapassar o trauma de manter uma conversa em português sem que ninguém lhe pergunte se está bêbado ou drogado, decide sair de Portugal aos 18 anos, apenas com o objectivo de aprender outra língua para se poder expressar. Foi em Viena que conheceu a primeira mulher, que não resistiu aos encantos de um jovem jardineiro, profissão que tinha na altura. Este romance, para além de ter sido mais tarde aproveitado para a série Donas de Casa Desesperadas, foi o motivo da ida de Joaquim de Almeida para os Estados Unidos. Lá, resolveu estudar no Lee Strasberg Theatre e depressa ganha os primeiros papéis em peças de Teatro. É assim um pouco por acaso que em plenos anos oitenta se pode gabar de ser o único actor português a entrar em peças de Teatro e isso não ser sinónimo de fazer figuras tristes na Revista à Portuguesa. Na altura, acumula com os estudos a profissão de barman e hoje podemos afirmar que 60 filmes depois, nunca beijou tantas mulheres como naquele tempo em que trabalhava atrás de um balcão. Essa é mesmo uma das marcas mais interessantes da sua carreira, paralelamente com a de ter entrado em 60 filmes. Joaquim de Almeida é assim, o único actor português que pode afirmar que já entrou em tantos filmes como os que já foram feitos em Portugal. Aliás, em Portugal também entrou em muitos, ou não estivesse essa obrigatoriedade escrita em decreto-lei. Depois de o tiro no escuro, de Leonel Vieira, e não me estou a referir ao título do filme, a última aparição de Joaquim de Almeida no cinema português é em Call Girl. Depois de contracenar com actores como António Banderas, Harrison Ford ou Kiefer Sutherland, o actor português pode com toda a certeza afirmar que encontrou nas mamas de Soraia Chaves o par ideal. Apesar de residir em Santa Mónica, Joaquim de Almeida vem muitas vezes a Portugal visitar os filhos. Contudo, não deixa de ser brilhante a desculpa que conseguiu arranjar para não ter de estar presente em peças da escola e cerimónias de Primeira Comunhão. Nos Estados Unidos, nunca foi nomeado para um Óscar. Como se isso não bastasse, não só foi nomeado em Portugal como ganhou um Globo de Ouro. Reagiu com fairplay, embora se saiba que sempre que alguma personalidade americana o visita na sua casa, ele esconda a estatueta. Não por vergonha de ser português, mas sim do filme que o fez ganhar. Depois de tantos sucessos, Joaquim de Almeida ainda tem sonhos: abrir um restaurante em Miami, ver os filhos licenciados e entrar num filme em Hollywood num papel que não seja a de um hispânico que trafica droga e que vive numa quinta cheia de capangas. Hoje em dia, todos os portugueses têm orgulho na carreira de Joaquim e já o conseguem compreender. Até porque sempre que o vêm, ele está legendado.
RSC