terça-feira, 25 de março de 2008

Vidas do Arco da Velha: Miguel Sousa Tavares

Miguel Sousa Tavares nasceu no Porto em Junho de 1952. Filho da poetiza Sophia de Mello Breyner Andresen e do advogado Francisco Sousa Tavares e sobrinho de um lutador de boxe. Desde cedo, Miguel mostrou ser uma criança especial. Aos quatro anos de idade, foi mordido por um cão com raiva. Aos cinco foi mordido por outro cão com raiva. E aos seis. E aos oito. A sua vida continuou finalmente mais calma, até que aos 12 mordeu um cão. O Cão teve morte imediata. Esta foi a primeira vítima da sua raiva. Outras se seguiriam mais tarde, como Luiz Felipe Scolari, Gilberto Madaíl ou Pedro Santana Lopes.
Seguindo as pisadas do pai, Miguel licenciou-se em direito. Exerce a profissão de advogado durante 12 anos até que descobre um dos seus maiores heróis e referências até hoje: Mickey Rourke. E depois Steven Seagal. E depois “The Punisher”, isto em BD.
Abraça mais tarde a carreira de jornalista, mas esta tem uma característica que Miguel Sousa Tavares rejeita e não compreende: a impossibilidade de dar opiniões. Como tal, torna-se cronista e comentador. Passa ainda pela SIC e pela RTP onde apresenta alguns programas de debates e de informação. Cria um novo estilo, aquele em que o espectador tem a sensação que o entrevistador a qualquer momento pode dar um par de estalos ao entrevistado. A sua maneira de falar leva os directores das estações e das revistas por onde passa a pagarem-lhe várias vezes o ordenado do mesmo mês, uma vez estarem permanentemente na dúvida se lhe estavam a dever alguma coisa.
Conhecido por ser um faccioso adepto do FC Porto, Miguel entra como colaborador no jornal A Bola, onde assina uma coluna de opinião chamada “Nortada”. Agora sabe-se que tudo não passou de um equívoco de impressão que acabou por ficar. Na verdade, a coluna era para se chamar “Porrada”. Este artigo de opinião semanal é, no entanto, um dos marcos históricos daquele jornal: é que para muitos, foi um choque ver numa publicação como A Bola uma linha a dizer bem do FC Porto. Desde 2000 que Miguel Sousa Tavares marca presença no Telejornal da TVI. Durante muitas emissões daquele serviço informativo, a presença do comentador foi essencial, uma vez que por vezes chegou a ser a única voz a dizer alguma coisa com pés e cabeça.
Desde 1985, edita vários livros de crónicas, mas é já em 2003 e mais tarde em 2007, que o romance marca a sua estreia na grande literatura. Primeiro com “Equador” e agora com “Rio das Flores”, Miguel Sousa Tavares atinge um dos seus maiores objectivos: editar um romance de grande tiragem, com uma história coerente e um bom enredo e que ao mesmo tempo pudesse magoar bastante alguém a quem o livro tivesse sido atirado à cara. Muitas pessoas choram ao ler estas duas obras, não porque se emocionassem com a narrativa, mas que por distracção deixaram o livro cair-lhes num pé. Miguel é ainda conhecido por ser uma das figuras públicas que com mais veemência defende os direitos dos fumadores, tendo chegado a afirmar que um bebé a chorar incomoda muito mais que um cigarro. Desde então, nunca mais ninguém na família o deixou estar ou muito menos fumar ao pé de uma criança.
Ao longo dos seus 56 anos de vida, nunca ninguém viu Miguel Sousa Tavares a sorrir. Ouve um rapaz que uma vez jura ter visto, mas encontra-se neste momento desaparecido.
RSC