domingo, 27 de abril de 2008

Vidas do Arco da Velha: Joe Berardo

José Manuel Rodrigues Berardo nasceu na Ilha da Madeira, a 4 de Julho de 1944, data que seria recordada anos mais tarde em Hollywood e sob a forma de homenagem com o filme, “Born in the fourth of July”. Desde muito cedo a criança adopta o nome Joe. Hoje, muitos pensam ter sido um ajustar do nome José à realidade anglo-saxónica, mas o que aconteceu de facto é que o pai do pequeno Berardo tinha um defeito na fala, o que o impedia de pronunciar correctamente o nome do filho. Sabe-se hoje que a dificuldade que Joe tem em se expressar, não tem a ver com o facto de falar várias línguas, mas sim com um herdar do mesmo problema do pai.
Desde pequeno que Berardo revelou ser uma criança diferente. Com apenas cinco anos vai a um funeral e fica encantado com as cores. Jura a si mesmo que a partir desse dia nunca mais usa outra cor que não o preto, excepto em dias em que come chocos com tinta, em que veste uma camisa branca, só para chatear a mulher-a-dias. Foi desde sempre um coleccionador crónico, começando por juntar selos, caixas de fósforos e postais até aparecer algo de muito mais interessante: as colecções de cromos do Campeonato do Mundo da Panini, onde ainda hoje lhe faltam o Fontaine no Suécia’58 e o Garrincha no Chile’62. Juraria nunca mais voltar a coleccionar cromos de futebol, até não resistir anos mais tarde à Colecção do Campeonato Nacional 93/94, podendo-se hoje orgulhar de ser o único português a ostentar todos os cromos da equipa do Gil Vicente, nessa caderneta.
Aos 19 anos emigrou para a África do Sul onde casou e teve dois filhos. Se é um dos grandes culpados pelo Apartheid é um mistério que ainda ninguém conseguiu desvendar. Inicia então a sua colecção de obras de arte, que o leva a ser um dos maiores coleccionadores do Mundo. Hoje em dia, a sua colecção pessoal foi considerada mais valiosa do que a de Guggenheim, apesar de ela conter um quadro da Paula Rego. Em 1989 faz afirmações de que se iria arrepender mais tarde. Primeiro, diz que nunca mais voltaria a Portugal. Depois, diz que há-de morrer sem ver aparecer um detergente dedicado à roupa preta. Anos mais tarde, já em Lisboa, é com um misto de desilusão e alegria que Joe vê aparecer no mercado o Soflan Black Fashion, produto que ele esgota sozinho.
Depois de colocar a sua colecção em exposição em Portugal, Berardo dedica-se agora à conquista de coisas maiores. Primeiro, afirma que quer comprar 85% do Sport Lisboa e Benfica, lançando uma OPA ao clube do seu coração. Apenas consegue comprar um e meio por cento, duas roullotes nas imediações do Estádio da Luz e uma loja no Colombo. Não satisfeito, lança uma segunda OPA ao Grupo BCP, e aí o máximo que consegue fazer é pôr todos os outros accionistas numa pilha de nervos. Recentemente, envolveu-se numa acesa discussão com Rui Costa, um dos símbolos benfiquistas. A questão acaba por ser resolvida sem que ninguém perceba como nem porquê, uma vez que o português falado pelos dois não é de fácil entendimento. É já em 2007 que Berardo tem duas das maiores alegrias da sua vida: vê criado o Museu Berardo da Arte Moderna e Contemporânea, em Lisboa, e vê aparecer no mercado o Eristof Black.
É com o copo servido com esta pouco convencional bebida que Joe relaxa todos os dias, no seu escritório, ao som do Black Álbum dos Metallica, enquanto observa dois dos maiores símbolos da sua fortuna: um Picasso original e o cromo do Caccioli.
RSC