segunda-feira, 2 de junho de 2008

Vidas do Arco da Velha: Chalana

Hoje quero falar-vos de um poeta, pensador, filantropo, antropólogo... Estou a gozar. É o Chalana. Fernando Albino Sousa Chalana nasceu a 10 de Fevereiro de 1959, no Barreiro. É considerado um filho nato daquela região, pois desde muito cedo apresentou características que em tudo condizem com as qualidades que um barreirense deve ter: gostar de comida no carvão e ter bigode. O bigode de Chalana é aliás, uma marca que possui desde muito cedo. Não nos podemos esquecer que foi assim que o médico viu que era menino, depois da primeira ecografia feita à barriga de sua mãe.
Desde novo, o pequeno Fernando mostrou qualidades para a profissão que iria ter anos mais tarde. Com efeito, a sua roupa estava sempre impecavelmente alinhada, o que levava todos os familiares e amigos a afirmarem convictos: “Este menino ainda um dia vai ser roupeiro”. Dito e feito. Quanto à habilidade para a bola, também tinha alguma. Chalana depressa se fez adolescente e chegou às camadas jovens do Barreirense. Desse tempo, dos seus 15 anos, guarda duas coisas: a alegria de chutar uma bola e o seu metro e sessenta. Iniciada a carreira no futebol, Chalana guarda consigo até hoje a mágoa de não ter realizado os seus dois maiores sonhos: ser campeão europeu com a camisola do Benfica e ter acabado a quarta classe. No entanto, o pequeno genial não se pode queixar, pois se ser campeão europeu pelo Benfica é uma tarefa que nem dois Valentins Loureiros conseguiam tornar possível, já a quarta classe, Chalana não a acaba porque não quer. É que hoje em dia, já todas as escolas possuem serviço de bar. Dizem os amigos que nunca teve jeito para os estudos. Se isso até há pouco tempo era uma incógnita, esta época a verdade veio ao de cima, uma vez que ficou provado, de cada vez que dava uma conferência de imprensa, que tinha estudado os adversários com menos atenção do que o Tonecas, se fosse treinador de futebol.
Depois do Barreirense, dedicou grande parte da sua carreira de jogador ao Benfica, e mais tarde ao Bordéus e ao Belenenses. Todos consideram que podia ter tido um trajecto muito mais vitorioso, mas no fundo, ele apenas queria ganhar uma aposta, na qual se tinha comprometido a nunca jogar por nenhuma equipa cujo nome não começasse por “B”. É no Bordéus, terra do famoso vinho, que começa a relação de Chalana com a bebida. Por muito que ninguém admita esse problema, o seu nariz não mente, nem aqueles que o vêm na Catedral da Cerveja entre o meio-dia e as onze da noite.
As más companhias sempre marcaram o percurso de Chalana. Os problemas começaram cedo, nas ruas marginais da cidade do Barreiro, prolongaram-se no França’84, onde era muitas vezes visto na companhia de Bento e de Jaime Pacheco, e complicaram-se definitivamente quando começou a almoçar frequentemente com Luís Filipe Vieira. Hoje em dia, Chalana é um homem dividido. Outrora, a sua boa disposição fazia rir os jogadores nos treinos. Agora, a má disposição faz rir toda a gente que ouve as suas conferências de imprensa.
Muitos ainda não perceberam porque é que foi ele a assumir o comando do Benfica, em vez do tradicional Shéu. O que muitos não se lembram é que o Shéu nunca constituiu uma opção real, pois é muito complicado para um clube que luta por títulos, de cada vez que o seu treinador levanta a mão para indicar que faltam cinco minutos para o final da partida, os jogadores pensem que já só faltam três.
RSC