quinta-feira, 20 de setembro de 2007

A carta

Estive hoje nos correios para ir levantar uma carta registada da Polícia Municipal. Abri a carta. Li a carta. Rasguei a carta. Respondi assim:

Excelentíssimos senhores da Polícia Municipal:

Antes de mais permitam-me dizer-vos o quão lisonjeado estou por ter sido um dos seleccionados. Eu, que até nem tinha mandando cupões ou juntado caricas. Afinal, não é todos os dias que somos escolhidos para fazermos parte integrante dos milhares de cidadãos que estupidamente andam dois quilómetros mais rápido do que o Cândido Barbosa quando está numa etapa da montanha.

Reparei que vossa carta não tinha lapsos e pus-me a pensar: Provavelmente a polícia, coitada, teve de contratar alguém para redigir cartas, alguém de fora obviamente, porque não existe ninguém dos quadros internos que consiga rabiscar um texto sem à força enfiar as palavras: Individuo, ocorrência e Casal da eira. E a conclusão é esta: Já pensaram nas probabilidades que têm em multar a pessoa que vos redigiu a carta denunciadora da multa?

Claro que não,porque a última vez que vossas excelências pensaram deve ter sido quando o Rui Costa foi transferido para a Fiorentina.

Desculpem-me estas últimas linhas, mas, de facto, não entendo que o estado do país, a fome em África ou a história do McCann vos tenha tirado mais do que uns enfadonhos quarenta e cinco segundos – de certo que ficaram impressionados com a minha minúcia, deixem-se disso foi apenas um palpite.

Muito tempo livre devem ter as madames para se darem ao luxo de fazer estas tropelias e se tivermos em conta as vossas rotinas laborais compreendemo-lo rapidamente. Falo de ir apanhar um gatinho ao Areeiro, fechar a Almirante Reis e, sobretudo, bloquear carros em parceria com EMEl.

Bem sei que deve ser difícil desenvolver um trabalho sério sem o auxílio de uma arma de fogo, porque até esse mínimo dos mínimos vos tiraram, nem sequer têm uma arma que se apresente. Sem querer ser rude torna-se evidente que qualquer Playmobil está, de longe, bem mais equipado do que um Polícia Municipal.

Às vezes ainda me lembro daqueles anúncios que passavam na televisão “Jovem se já tens o 9º ano e procuras uma carreira de sucesso, junta-te à polícia” em que passavam imagens de polícias em grandes momentos de acção, como por exemplo: a rebolarem num descampado ou saltar à corda.

Imaginem como seria o mesmo spot televisivo, mas para um Polícia Municipal: “Jovem se ainda não acabaste a quarta classe, porque tens dificuldades a Meio físico e social, junta-te a nós”.

Em relação as imagens, teriam de ser reproduções da avenida da república a ser fechada por polícias municipais, um bloqueamento de carros em massa e um resgate de um rafeiro em Campolide – tudo isto ao som de um tema de Rão Kyao.

Enfim, meus caros, como já devem ter reparado não tenho nenhuma reclamação consistente para vos fazer. Era mais para chatear.


P.S – Faço tenções de responder a todas as cartas que me enviarem. Penso que isto pode ser o princípio de uma longa amizade.


Felicidades para os vossos projectos
Atentamente, Salvador Martinha

SM