Destino: Amsterdão - A minha primeira crónica de viagem II
Já não chove em Amsterdão.
O dia amanhece com uma imagem por demais gasta. Uma criança pobre pede-me dinheiro, eu nego. Percebendo que sou português (tinha acabado de cuspir para o chão) diz-me: “Luís Figo”, ao que sou obrigado a responder “pesetero”. Acabo por lhe dar 15 cêntimos e recomendo que não o gaste em doces - já bem basta o estado a que deixou chegar os dentes.
O calcar das ruas revela uma cidade totalmente plana, o que numa primeira instância me obriga a observar duas grandes vantagens: as bicicletas são mais que muitas, o que faz com que estejamos na presença das mulheres com melhores pernas da Europa e as pessoas em cadeiras de rodas não têm aquele olhar mortiço que é possível observar nas de cá e que chega a incomodar mais, do que quando nos impedem a passagem num restaurante.
Deparo-me com uma feira de queijos. Anunciam-ma como a maior variedade de queijos junta, em todo o Mundo. Depois de duas voltas ao recinto, entalo um dos vendedores com uma pergunta incomodativa. Pois. Queijo alentejano nem vê-lo. Irritou-me um bocadinho, apesar de nem ser apreciador. É muito seco.A descoberta continua. A visita ao Museu da Delft (maior marca de cerâmica e loiças holandesa) faz-me sentir culpado, quando depois de passar dez minutos a ver como se faz um molde de um jarro, percebo que nunca faria tal pela Vista Alegre.
Decido reconfortar a alma com um almoço requintado. No final da refeição vem a pior notícia que podia ter, nesta fase da minha vida: a sobremesa é em registo buffet. Ainda assim, resisto e experimento apenas doze.
À tarde, a procura pelos primeiros souvenirs traz-me a primeira desilusão. Afinal, aqui também se vendem ímans para frigorífico. Torna-se claro que a Holanda não é um país assim tão desenvolvido. Acabo por comprar alguns para oferecer às pessoas que gosto menos. A noite reserva-me o contacto com o Red Light District. Caminho lentamente pelas ruas em busca de imagens para usar mais tarde. Sinto o meu coração a reclamar, pois faço-o receber estímulos de quem se está a apaixonar, mas a um ritmo de quatro em quatro minutos, por uma mulher diferente. Relembro-me que esta é apenas uma primeira noite de prospecção e regresso ao hotel, com a imagem de uma delas a piscar-me o olho, por detrás da montra.
Faço por esquecer. Aposto que faz isso a quase todos.
Rui "Cadilhe" Cordes

